O Impacto das Festas Israelenses e a Falta de Planejamento do Turismo em Morro de São Paulo

Morro de São Paulo é um destino turístico consolidado, conhecido por sua beleza natural e pela diversidade de visitantes que recebe ao longo do ano. No entanto, um fenômeno que vem se intensificando nos últimos anos tem causado preocupações para moradores e empreendedores locais: as festas de grande porte organizadas por empresários locais para um grupo específico de turistas — os israelenses — com apoio da Prefeitura de Cairu e da Secretaria de Turismo.

Recentemente, eventos ocorridos na ilha geraram uma onda de críticas nas redes sociais, expondo um lado ignorado por reportagens que apenas romantizam a presença de turistas israelenses na região. Apesar do entusiasmo com o crescimento desse público, os impactos negativos dessas festas precisam ser discutidos com seriedade, pois comprometem a qualidade de vida dos moradores, a experiência de outros turistas e o equilíbrio ambiental da ilha.

Impactos das Festas na Comunidade e no Meio Ambiente

O barulho excessivo não é apenas um incômodo: ele afeta diretamente a saúde dos moradores. Morro de São Paulo está localizado em uma Área de Proteção Ambiental (APA), onde o respeito à fauna e à flora deveria ser uma prioridade. Além do impacto no ecossistema, há também o impacto social, afetando diretamente aqueles que vivem na ilha e buscam um ambiente harmonioso para viver e trabalhar.

Eu voltei de lá há uns dias e realmente são muitos mesmo, principalmente na 2ª praia. Sem contar que eles sujam demais as praias. — Camila B.

Entre os mais prejudicados estão idosos, crianças, bebês, pessoas com condições de saúde sensíveis (como transtornos neurossensoriais) e trabalhadores que precisam de uma boa noite de sono para manter sua saúde física e mental. Muitos dependem do turismo para viver, mas não desse modelo predatório, que favorece apenas alguns organizadores de eventos e prejudica a experiência de outros visitantes.

Os impactos vão além da poluição sonora. Muitos turistas afirmam que irão evitar Morro de São Paulo durante o período dessas festas e aconselham outros a fazer o mesmo, optando por outros destinos. O comportamento inadequado de alguns turistas israelenses já é conhecido, e agora, com a repercussão nas redes sociais, mais pessoas estão reconsiderando visitar a ilha.

Um verdadeiro absurdo. Tive o azar de ir pra Morro pela segunda vez no mês de março e me esbarrar com eles. São mal educados, sem noção, presenciei até alguns deles usando drogas nas mesas. Horríveis. Um conselho: não frequentem Morro em março. É horrível conviver com eles. Ah, não é xenofobia, falando apenas a minha experiência durante 6 dias, nada agradável. — Juliana G.

No verão, período de maior fluxo turístico, esses eventos acabam afetando diretamente os investimentos que outros empreendedores fazem para receber perfis variados de visitantes. Algumas pousadas já receberam tantas reclamações sobre barulho e desordem que optaram por hospedar exclusivamente turistas israelenses, afastando outros públicos e comprometendo a diversidade turística da ilha.

Morro de São Paulo está tomado por eles. Não respeitam o horário, trocam o dia pela noite, batem a porta dos quartos parecendo que vão destruir tudo. Bastante complicado. — Pedro F.

Além disso, o comércio local também sente os efeitos negativos. Funcionários de pousadas, restaurantes e agências de passeios chegam ao trabalho exaustos, comprometendo a qualidade dos serviços prestados. A sobrecarga física e mental dos trabalhadores deve ser considerada, pois impacta diretamente a hospitalidade e o atendimento aos turistas.

A Falta de Visão e Planejamento do Turismo

A falta de planejamento na área de turismo faz com que os gestores apostem apenas no turismo que “bate à porta”, em vez de investir na diversificação de visitantes.

Não há campanhas organizadas para atrair turistas de diferentes estados brasileiros ou do exterior. A Secretaria de Turismo de Cairu não investe na divulgação do Morro de São Paulo em eventos estratégicos ou feriados importantes. Além disso, a promoção de eventos locais ocorre de maneira desorganizada e de última hora. O último CarnaGamboa (evento de carnaval), por exemplo, foi anunciado com apenas quatro dias de antecedência, impossibilitando que turistas de outros estados e regiões pudessem se planejar para participar.

Exatamente isso, sou moradora de Morro. Não é xenofobia, não. Eles são arrogantes, mal educados, passam e te empurram. — Moradora do Morro de São Paulo

Falta de Regulamentação e Apoio do Poder Público

Outro ponto preocupante é a ausência de regulamentação desses eventos. As festas não ocorrem apenas em estabelecimentos comerciais, mas em espaços abertos, de madrugada, qualquer dia da semana, próximos a áreas residenciais, sem o devido controle sonoro e fiscalização. A legislação ambiental, que deveria proteger Morro de São Paulo, não está sendo respeitada, e a Prefeitura parece priorizar a arrecadação imediata em vez da sustentabilidade do turismo a longo prazo.

Em vez de ouvir os moradores e debater soluções para minimizar os impactos negativos, o poder público tem se aliado aos organizadores dessas festas, garantindo um controle mínimo que, na prática, favorece os organizadores em detrimento da comunidade local.

Os jovens israelenses passam por treinamento militar obrigatório e, depois desse período de privação e disciplina, acabam chegando em destinos turísticos e fazendo o que bem entendem, pois não há cumprimento de lei nem fiscalização. — Ian M.

Medidas Necessárias para um Turismo Mais Sustentável

O objetivo deste texto não é criticar essas práticas, mas abrir um diálogo sobre o tipo de turismo que precisamos para Morro de São Paulo.

Algumas medidas poderiam ser adotadas para equilibrar os interesses de todos:

• Restringir a realização de festas a estabelecimentos devidamente regulamentados, com tratamento acústico adequado e distantes de áreas residenciais.
• Estabelecer regras claras para esses eventos, garantindo que respeitem a legislação ambiental e o sossego público.
• Diversificar as estratégias de divulgação turística para atrair um público mais variado, evitando a dependência de um único perfil de turista.
• Sensibilizar os turistas israelenses antes mesmo de sua chegada, informando claramente sobre as regras e leis locais, a necessidade de respeito ao meio ambiente e à comunidade e as consequências de comportamentos inadequados. O desrespeito com moradores e trabalhadores, a poluição das praias com lixo e o barulho excessivo durante a madrugada são problemas que precisam ser abordados de forma direta.

Umas colegas que fizemos em Morro disseram que eles acabaram com o passeio do grupo delas, extremamente mal educados e não respeitavam o guia. É desrespeitoso porque, assim como nós devemos respeitar a cultura deles ao viajar, eles também deveriam respeitar a nossa. — Jannine B.

Para Todos, Incluindo os Próprios Turistas

Os comentários citados ao longo do texto foram retirados de publicações em redes sociais onde o tema era a presença de israelenses em Morro de São Paulo. É importante ressaltar que este texto foi lido e aprovado por israelenses que vivem na ilha antes de sua publicação. A intenção não é generalizar ou demonizar um grupo, mas sim trazer à tona problemas reais que precisam ser discutidos.

A maioria dos turistas que visitam a ilha demonstra respeito pelo local e sua cultura. O problema está na falta de planejamento, na conscientização desses visitantes e no controle dos eventos, o que permite excessos que prejudicam a todos, incluindo outros turistas que vêm ao Morro de São Paulo em busca de descanso.

Se queremos um turismo de qualidade, ele precisa ser sustentável, equilibrado e respeitoso — algo que não vem ocorrendo. A Prefeitura de Cairu, os organizadores de eventos e os próprios visitantes israelenses precisam compreender isso. Caso contrário, Morro de São Paulo pode acabar afastando os turistas que buscam um destino bem estruturado e relaxante, comprometendo o futuro da ilha como um dos principais polos turísticos da Bahia.